O Pedido Do Morto: 05


Zlatan?! - falou Alexandre surpreso caindo sentado pela força do golpe sobre o seu escudo.

O Pedido Do Morto: 05

-Zlatan?! - falou Alexandre surpreso caindo sentado pela força do golpe sobre o seu escudo.

-Zlatan! - respondeu enquanto removia as suas armas do seu, também, antigo “amigo”.

-O que... - falou Alexandre sem entender o significado do fim da sua batalha. - Você fez?

A mão direita de Alexandre largou a espada, tocou em Dovatahuim, e com o pesar mergulhado em tristeza entendeu... Uma efêmera lágrima nasceu e morreu oculta pela mão que escondia o seu olhar. Essa mesma mão escorregou até o seu peito. Nesse ponto nasceu uma luz inofensiva aos olhos, e mais uma vez ela limpou todas as suas feridas. Alexandre não mais sentia dores nas pernas ou no ombro que havia sido deslocado. Segurou Zlatan pelo manto na altura do ombro:

-O que foi que você fez?

-Zlatan salvou Alexandre! - falou estranhando tanto a mão quanto a quantidade de força que o agarrava.

-Do quê? De uma luta justa? E Dovatahuim não merecia isso! - falou e então olhou para o meio-dragão estirado no chão. - Não essa execução. Ele merecia a prisão pelo seus erro, ou um combate justo e que os deuses escolhessem o seu destino - ao encarar o rosto calmo e indiferente de Zlatan a vontade de gritar entalou em sua garganta.

Eis que uma bola de fogo se aproxima voando na velocidade de uma bala de canhão. Ao notar, tarde demais, Alexandre se esconde, abaixado, atrás do seu escudo. A explosão abraçou toda a sala, lançou chamas sobre os livros ainda intactos, despedaçou os vidros das janelas, esmagou estantes contra a parede, mas, devido a graça divina, só feriu o paladino nos pés e braços. E então o sino do alarme, como se acordado por essa explosão, soou por toda a cidade como o grito de um velho dragão.

-Você está bem, Zlatan? - perguntou Alexandre se levantando. Ao procurar pelo halfling nas proximidades do jardim não o encontrou.

-Zlatan está sempre bem - respondeu invisível em alguma sombra.

-Fico feliz em saber... - falou Alexandre sem conseguir encontrá-lo. - Leve a viúva e as crianças para o porto. Eu ficarei e ganharei tempo para você. Depois, quando salvarmos esses inocentes, continuaremos com a nossa conversa. Espero que a próxima seja a última!

Alexandre pegou a sua espada, apanhou o seu elmo, e saiu pela varanda da sala de leitura derrubando - com a sola do seu pé - a grade que o havia feito tropeçar. Os portões de metal do muro da casa estavam abertos e através deles entravam um punhado de jovens soldados. Eles andavam cuidadosamente em direção a Alexandre com espadas e escudos em mãos. O paladino sussurrou uma prece de paz ao vento para a alma daquele que havia sido o seu último oponente.

O semblante de Miguel surgiu na rua, um pouco antes do portão. Segurava a sua monstruosa espada com a mão esquerda com a lâmina deitada no ombro da sua armadura. A sua mão direita envolvia o símbolo do Senhor das Armas: um disco de ouro do tamanho da sua palma com manoplas negras e machados sangrentos desenhando uma encruzilhada.

-Senhor, agradeço a ti por escutar minhas preces e assim ceder essa afiada provação - falou Miguel, o seu coração pulou de satisfação ao avistar inimigos, e continuou. - Agora, eu suplico, humildemente, a tua atenção: olha por mim, o teu leal servo, e pelos meus irmãos de batalha. Que os nossos feitos alcancem a graça dos teus olhos. Que as nossas armas carreguem a tua aprovação. E que a tua benção nos conduza à vitória.

Zlatan e Alexandre, mesmo sem reconhecer esse deus, sentiram a benção. Os sentidos de ambos ficaram mais afiados, as armas que carregavam estavam tão leves e móveis como se fossem extensões do seu corpo.

Os soldados ouviram a prece do sacerdote e se dividiram em dois grupos. Três iam lentamente em direção de Alexandre - a cautela era provocada pelo testemunho da luta contra o meio-dragão - já os outros três iam mais despreocupados em direção a Miguel.

Com as duas mãos o clérigo segurou a sua espada na altura do seu rosto e avançou roubando a iniciativa. Golpeou o primeiro, o segundo... O terceiro foi ao chão, por livre vontade, implorando pela sua vida ao ver o manejo da esgrima, a velocidade, e a violência do sangue a jorrar das vítimas.

-Vá! - falou Miguel para aquele que havia descartado a vontade de ganhar.

A palavra de Miguel caiu como chicote sobre o soldado que, em resposta, fugiu como um bicho adestrado. Os outros repetiram esse comportamento. Após a saída dos soldados, o jardim voltou ao silêncio. Alexandre balançou a cabeça, em negação, mas esse sentimento não caia sobre os fugitivos.

-Miguel, olhe no rosto deles, são apenas crianças buscando fama - falou se ajoelhando perante uma vítima, tão jovem, tão frio. - Você não precisava ir tão longe!

-Você julga a habilidade de um pessoa pelo rosto? Saiba que eu jamais subestimarei um adversário! Aquele que levantar uma arma com a vontade de lutar encontrará ápice da minha habilidade.

-Não, não falei pelo rosto, mas sim pela idade.

-Outra tolice! Eu na idade deles já marchava nas linhas de frente no exército de meu pai. Alexandre, não há maior honra do que morrer em batalha!

-Não concordo com essa sua verdade, Miguel. A vida, essa sim, é a única verdade - falou Alexandre passando a mão sobre o rosto dos mortos. Fechou os olhos de dor e lhes presenteando com uma máscara de paz. - Sigam em paz e que a Luz os guiem nessa sua nova jornada.

-Estarei desonrando o meu adversário caso não lute com todas as minhas forças - falou Miguel procurando por novos inimigos, avistou apenas ruas e casas vazias. - Me diga a situação.

-Dovatahuim escapou da prisão e estava caçando pelas nossas cabeças. E existe um mago em algum lugar na praça capaz de soltar bola de fogo - falou Alexandre se levantando.

-O Vermelho está aqui?!? Como escapou? Não, não responda, não me importa. É um inimigo, é tudo que eu preciso saber. Dois oponentes dignos! Que boa notícia! O Vermelho, onde está?

-Morto. Zlatan.

-Morto?! Por Zlatan? Que decepção! Pensei que ele tinha algum potencial. Bom. Sendo assim, deixe o mago para mim. Será um bom aquecimento para o meu duelo contra o gnomo. E os falsos guarda-costas da viúva?

-Pedi para Zlatan acompanhar a família dela até o porto. Ele cuidará deles.

  • Parte 04 será lançada na próxima semana!