O Jardineiro Amador
Há uns seis meses, eu perdi uma orquídea, minha primeira flor. Foram seis anos. Não, ela não morreu, eu a perdi porque, para sobreviver, precisou voltar para o jardim de onde a encontrei. Sim, tive muita dificuldade em entendê-la: entender quando precisava de um novo vaso, quando precisava de poda, ou quando precisava apenas de água. Percebi que sua cor ficava mais viva quando a deixava na varanda, o lugar mais próximo do mar na casa. Não sei se era o vento ou o cheiro da maresia. Isso é normal? Outra coisa curiosa é que gostava de música barulhenta, mas não de muitas. Poucas, diria pouquíssimas. Era como se, a cada mês, ela tivesse uma nova trilha sonora. Isso, apenas uma. Plantas conseguem amar música? Eu amo o silêncio, mas, se a música parasse, ela murchava. Diria que por tristeza. “Engraçado” isso. Hoje, não consigo ouvir certos artistas, é uma mistura de “ranço por já ter ouvido tanto” com saudade. Enfim, ela adoeceu, perdeu suas flores roxas, de ametista. Eu deveria ter buscado ajuda, deveria ter procurado orientação. Mas eu estava cansado, ando cansado, vivo cansado. Não fisicamente, mentalmente. Motivos? Nenhum aparente, talvez trabalho. Agora vejo que estávamos os dois doentes. Fico me perguntando quem adoeceu primeiro e, se eu estivesse saudável, será que tudo teria sido diferente? Sim, e se...
Enfim, o tempo foi passando, e ela foi piorando. Manchas apareceram nas folhas, que ficaram tão fracas que começaram a cair. Eu tentei, tentei de verdade. Agora percebo que tentei da maneira errada. Seria tão mais fácil se eu conseguisse ouvi-la, entendê-la. Minha energia foi direcionada para o lugar errado. Culpo meus olhos por não enxergarem o seu idioma. Também porque me concentrei demais em tratar os sintomas, sem perceber a causa. Ou melhor, quem era a causa. Eu. Sim, eu deveria ter percebido isso. Eu deveria ter desistido antes, conduzido ela mais cedo para o seu verdadeiro jardim. Teria poupado mais flores, provocado menos dores.
Poucos meses depois de perdê-la, eu voltei a caminhar em outros jardins. A intenção era apenas olhar; eu ainda não estava pronto, mas o peso da saudade já era demais. Minha vida esta tão sem cores, e por isso me deixei ser fraco. Notei, isolado, um girassol sem algumas pétalas, arrancados provavelmente por algum animal. Não sei o que aconteceu naquele momento, mas meu coração pulou, e me perguntei: por que não? Dois meses se passaram, e essa planta também precisou voltar, eu ainda não estava pronto, não estou pronto. Sabe o que dói? Ela pode ser a planta da minha vida, mas achei na estação errada. O que torna tudo pior é que alguém a levou. Sim, eu vi. Vi também os sorrisos nesse exato momento. E, de alguma forma, isso me basta.